A campanha eleitoral para este segundo turno começa com Dilma Russef na defensiva e José Serra, aparentemente, no ataque. Ambos usam o mesmo bordão: Dizem que são a favor da vida.
Ora, mas quem aí é contra ? Como uma afirmação assim tão singela pode gerar tantas interpretações controversas — e ainda servir como elemento de diferenciação entre os dois candidatos ?
A rigor, afirmar que se é a favor da vida não diz nada. Porque, efetivamente, ninguém é contra a vida.
Da mesma forma, como gosta de ressaltar meu chefe Fernando Mitre, não se conhece ninguém que seja a favor do aborto. Por isso, imputar ao candidato A ou B a defesa do aborto é uma estupidez colossal.
Dilma Roussef nunca afirmou que é a favor do aborto. Ao sustentar a única posição sensata possível sobre esse tema, afirmou e reafirmou que é a favor da descriminalização. Que o assunto deve ser encarado como problema de saúde pública.
Somente os carolas mais empedernidos podem sustentar uma posição diferente. Nem os fanáticos seguidores do bispo Edir Macedo, nem a Igreja dos Mórmons são a favor da criminalização da interrupção da gravidez. Por que meia dúzia de padres sem nenhuma importância e de pastores histriônicos vão dar o mote dessa campanha ?
Mas é em torno desse tema medieval que o debate começa. Parece que estamos na iminência de eleger um bispo para governar a grande igreja chamada Brasil. E assim foi nas primeiras peças veiculadas na manhã de hoje.
Pelo menos já sabemos que não corremos o risco de ter um psicopata presidindo a República. Ambos os candidatos são “a favor da vida”.
Para nossa sorte, ambos pensam igualmente sobre o aborto. São a favor da descriminalização. Vão sustentar o contrário, mas são.
Talvez assim as mulheres que morrem aos milhares nos inferninhos — ou perfuradas pelas agulhas das curandeiras — tenham alguma chance de vir a ser atendidas nos hospitais públicos quando decidirem interromper a gravidez.